Gaio
V. 1 – João abre com a saudação:
“O ancião ao amado Gaio, a quem eu amo em verdade” (AIBB). Como a segunda epístola, João
não se identifica, mas o estilo de escrever é inequivocamente seu. Ao contrário
da segunda epístola, a pessoa a quem João escreve é nomeada; é dirigido “ao
amado Gaio”. Seu nome
aparece cinco vezes na Escritura (At 19:29, 20:4; Rm 16:23; 1 Co 1:14; 3 Jo 1),
mas não se sabe se todos as menções que levam seu nome referem-se à mesma
pessoa.
Vemos em Gaio um santo
de mente espiritual cujos interesses estavam centrados no Senhor e em Seu povo.
Quão louvável! Não é de se admirar porque João disse que o amava “em verdade”.
A verdade é uma característica proeminente da epístola. Há:
- Amar em verdade (v. 1).
- Manter a verdade (v. 3a – JND).
- Andar na verdade (v. 3b).
- Ajudar a verdade (v. 8).
- Ter um bom testemunho da verdade (v. 12).
V. 2 – Antes de recomendá-lo
por seus esforços em ajudar os servos do Senhor, João menciona sua preocupação
pela saúde de Gaio. Ele diz: “Amado, desejo que te vá bem em todas as coisas
e que tenhas saúde, assim como bem vai a tua alma”. Vemos aqui a terna preocupação do apóstolo pelo bem-estar
pessoal de Gaio. Ensina-nos que devemos ter um cuidado genuíno um pelo outro em
um nível natural, bem como em um nível espiritual. Enquanto a saúde física de Gaio
estava minguando, sua saúde espiritual era boa. Nestes últimos dias, muitas
vezes é o contrário! O desejo de João era que a saúde física de Gaio fosse
igual à sua saúde espiritual, porque ele precisava de boa saúde para poder continuar
seu ministério de ajudar os servos do Senhor.
Vs. 3-4 – João recomenda
então Gaio por andar na verdade. Ele diz: “Porque muito me alegrei quando os
irmãos vieram e testificaram da verdade que há em ti, como tu andas na verdade.
Não tenho gozo maior do que ouvir que meus filhos andam na verdade” (KJV).
Os servos do Senhor que circulavam entre os santos relataram a benevolência de
Gaio a João, e ele menciona como sendo uma prova viva da verdade estar “nele”.
Ele não só tinha aprendido a verdade, mas ela se tornou parte integrante dele,
e assim governava sua vida. Por isso, João fala dele como retendo “a verdade”
e andando “na verdade”.
Incluindo Gaio entre
aqueles que João classifica como “meus filhos” sugere que Gaio pode ter
sido um dos convertidos de João. Paulo fala de Timóteo, Tito e Onésimo da mesma
forma (1 Tm 1:2; 2 Tm 1:2; Tt 1:4; Fm 9); Pedro também fala de João Marcos
dessa maneira (1 Pe 5:13).
Vs. 5-8 – Gaio não
apenas amou a verdade, mas também amou os irmãos. Isso foi expresso em sua hospitalidade.
João o recomenda por sua virtude, declarando: “Amado, procedes fielmente em
tudo o que fazes para com os irmãos e para com os estranhos, que em presença da igreja testificaram do teu amor; aos
quais, se conduzires como é digno para com Deus, bem
farás; porque pelo Seu Nome saíram, nada tomando dos
gentios”. Gaio
amava os santos e queria vê-los edificados na verdade, e assim, usou seus
recursos materiais para ajudar aqueles que estavam ensinando a verdade. Não há
indicação de que ele próprio tivesse um dom para o ministério público da
Palavra, mas ele procurou ajudar aqueles que o faziam. Isso é louvável.
O versículo 5 na versão
King James (e na ARC e ARF) parece indicar que havia duas classes de santos
para os quais Gaio ministrava – irmãos e estrangeiros. Mas melhores versões traduzem
o versículo como: “os irmãos, e isto fazes mesmo quando são estrangeiros” (ARA) indicando uma classe apenas.
Eram irmãos que eram estrangeiros naquela área. Esses estrangeiros eram servos
do Senhor, que saíram afora pregando o evangelho e ensinando a verdade, e Gaio
exerceu hospitalidade para com eles. Ele seguiu a exortação dada em Hebreus
13:2: “Não vos esqueçais da hospitalidade aos estranhos [estrangeiros]” (TB). Esses ministros itinerantes da
Palavra prestaram testemunho do amor de Gaio “em presença da igreja”, e
João o encorajou a continuar nesse bom trabalho de ministrar às suas
necessidades temporais “como é digno para com Deus”.
Estes irmãos saíram com
fé, confiando no Senhor para sustentá-los. Eles entenderam que não deveriam
tomar “nada” dos gentios incrédulos, entre os quais pregavam, para não
falsificar a graça de Deus aos olhos do mundo. Tal prática poderia ter dado aos
perdidos uma base falsa sobre a qual repousar, pensando que eles poderiam
ganhar salvação e favor de Deus por meio de boas obras (Rm 4:4-5; Ef 2:8-9; Tt
3:5). A prática destes servos de sair “nada tomando dos gentios” é
ilustrada na figura de Eliseu, recusando os presentes de Naamã (2 Rs 5:5,
15-16). A Escritura indica que esses servos do Senhor devem ser apoiados pelos
santos (1 Co 9:1-18; Gl 6:6; Fp 4:11-12; Hb 13:16). Isso é o que Gaio estava
fazendo. As campanhas de arrecadação de dinheiro na Cristandade evangélica hoje
desconsideram esse princípio; muitos regularmente imploram apoio financeiro de
públicos mistos de pessoas salvas e perdidas. Toda essa atividade é repreendida
pelo Senhor lidando com Geazi, que correu atrás de Naamã e recebeu um presente dele;
ao fazê-lo, tornou-se leproso (2 Rs 5:20-27).
João acrescenta: “Portanto,
aos tais [nós]
devemos receber, para que sejamos cooperadores da verdade” (v. 8).
Ao dizer “nós”, João estava indicando que todos os santos devem
participar desse ministério como forem capazes de fazê-lo, e não o deixar a
alguns poucos, como geralmente é a tendência. Disso vemos que a verdade e o
amor marcaram a vida de Gaio e todos os santos se beneficiaram com isso.