A Necessidade de Batalhar pela Fé
V.
3 – Estava no coração de Judas escrever sobre o assunto da salvação que é a
possessão comum de todos os Cristãos, mas o Espírito Santo o obrigou a exortar
os santos a batalhar pela verdade que estava sendo minada por homens perversos.
Ele diz: “Amados, procurando eu escrever-vos com toda a diligência acerca da
comum salvação, tive por necessidade escrever-vos e exortar-vos a batalhar pela
fé que uma vez [que de uma vez para
sempre – AIBB] foi dada
aos santos”. “A fé” à qual Judas se refere aqui é a revelação
da verdade Cristã. Normalmente, quando a palavra “fé” é usada na
Escritura sem o artigo definido “a” precedendo-a, está falando da energia
interior da alma em confiança em Deus (Ef 2:8, etc.). Mas quando “fé” é
usada com o artigo, como aqui em nosso texto (“batalhar pela fé”), está se referindo ao precioso
depósito da verdade que Deus nos deu – o corpo do conhecimento Cristão.
A
exortação simples, mas importante, de Judas é que precisamos nos manter firmes
pela verdade, sem comprometê-la. Como Sama, defendendo o campo das lentilhas
contra os filisteus (2 Sm 23:11-12), não devemos desistir de um pingo sequer da
verdade para o inimigo. Não devemos renunciá-la ou vendê-la (Pv 23:23), mas
guardá-la, como Paulo exortou a Timóteo: “Guarda o bom depósito pelo
Espírito Santo que habita em nós” (2 Tm 1:14).
Devemos
batalhar “diligentemente” (ARA)
pela fé, primeiro conhecendo a verdade e depois caminhando nela. Não podemos
defender a verdade se não dedicarmos nosso tempo para aprendê-la. Alguns têm
grande devoção de coração a Cristo, e isso é louvável, mas, infelizmente, carecem
de instrução na verdade. Consequentemente, ao desejarem ser fiéis, eles às
vezes se apegam ao erro ignorantemente e o defendem com valentia, achando que é
a verdade. Mas esse tipo de energia mal dirigida só aumenta a confusão no
testemunho Cristão (Veja João 16:2). Portanto, devemos dar a devida diligência
para aprender a verdade (1 Tm 4:6; 2 Tm 2:15) e buscar a graça de Deus para
andar nela (3 Jo 3).
Batalhar
diligentemente pela fé não é ficar discutindo pela causa da verdade. Existe
algo como fazer a coisa certa da maneira errada. Estar certo em algum ponto da
verdade não torna o litígio e a contenda aceitáveis. Paulo avisou Timóteo sobre
isso, afirmando que não deveria haver “contendas de palavras, que para nada
aproveitam” (2 Tm 2:14). Como já mencionamos, devemos guardar o bom
depósito da verdade “pelo Espírito Santo” (2 Tm 1:14). Isto é, devemos
agir no Espírito, não na carne, ao manter a verdade. Uma coisa é batalhar e
outra bem diferente é ser contencioso. “E ao servo do Senhor não convém
contender, mas, sim, ser manso para com todos” (2 Tm 2:24). Assim, não é
suficiente sustentar a verdade; nosso comportamento deve complementar a verdade
que professamos (Fp 1:27).
Judas
diz que a fé foi “uma vez” entregue aos santos. Isso significa que a
verdade foi dada de uma vez para sempre; a entrega está completa. Portanto, não
há mais verdade a ser revelada ou acrescentada. Os falsos mestres gostam de dizer
que há mais verdade a ser revelada, e que é isso o que eles têm – mas essa
noção errônea apenas abre a porta para doutrinas falsas. Com base no que Judas
diz aqui, se alguém vier até nós com algo novo, devemos saber imediatamente que
sua nova ideia não pode ser a verdade, porque toda a verdade já foi
dada.[1]
Nota:
a verdade foi “dada”, não foi descoberta por buscar nas Escrituras do Velho
Testamento. Isso ocorre porque a revelação Cristã da verdade não está no Velho
Testamento. Foi revelada aos apóstolos e profetas pelo Espírito Santo (1 Co
2:10; Ef 3:5) e comunicada por eles aos santos no poder do Espírito (1 Co 2:10-13).
Além
disso, o corpo do conhecimento Cristão foi entregue “aos santos”. Ele
não foi dado aos apóstolos, mas pelos apóstolos aos santos.
Assim, os apóstolos eram apenas os canais; os santos são os terminais da
verdade. O termo “santos” refere-se a toda a companhia Cristã; inclui os
irmãos e as irmãs. Isso mostra que todos somos os guardiões da verdade. É
responsabilidade de todo santo conhecer a verdade e andar nela, e lutar também
por ela. Alguns têm a ideia de que batalhar pela fé é um trabalho que pertence
àqueles que são mestres, mas na verdade é um privilégio e responsabilidade de todos
os santos. Uma irmã pode dizer: “Deixo tudo isso para meu marido e os irmãos na
reunião”. Mas essa ideia não tem o apoio da Escritura, pois, como Judas mostra
aqui em seu uso da palavra “santos”, as irmãs devem estar envolvidas em
manter a verdade também. O que é tão louvável sobre os de Bereia é que havia
entre eles muitas mulheres honradas que examinavam as Escrituras; não era algo
que apenas os homens faziam (At 17:11-12). De fato, deixar a defesa da fé para
algumas pessoas “qualificadas”, ou mestres dotados, contribuiu para a perda da
verdade como é evidente na história da Igreja. O catolicismo romano levou essa ideia
ao extremo; ensina que as Escrituras devem ser deixadas nas mãos do clero e
guardadas em mosteiros. Assim, ao fazê-lo, eles realmente tiraram as Escrituras
(a verdade) das mãos dos santos!
[1] N. do T.: Tem sido dito entre os irmãos: “Se é algo novo, não é verdade; se é
verdade, não é algo novo”.