sábado, 24 de agosto de 2019

Vida Eterna


Vida Eterna

Como mencionado, o grande tema que percorre todo o ministério de João é a “vida eterna”. Seu evangelho complementa suas epístolas, contendo todas as sementes desenvolvidas nas epístolas. No evangelho, as características da vida eterna são apresentadas nos ensinamentos do Senhor e são perfeitamente ilustradas em Sua vida; na epístola, essas mesmas características são vistas nos filhos de Deus. João alude a isso no capítulo 2:8, onde ele fala do novo mandamento de amar uns aos outros sendo aquilo que é “verdadeiro n’Ele e em vós. É como olhar para um álbum de fotos de família; há semelhanças perceptíveis por toda a família – dos pais aos filhos. Assim é na família de Deus; vemos os traços da vida eterna que caracterizam o Pai e o Filho aflorando nos filhos de Deus. Esses traços podem estar obscurecidos em nós às vezes, mas, mesmo assim, eles estão lá. Do mesmo modo como agrada a um bom pai terreno ver seus filhos seguindo em seus caminhos e ouvir as pessoas dizerem que eles o seguem, assim agrada a Deus, nosso Pai, ver as coisas que O caracterizam mostradas nas ações de Seus filhos.
Tendo declarado que o tema de João é a vida eterna, pode-se perguntar: “O que exatamente é a vida eterna?” Simplificando, é a posse da vida divina em comunhão com o Pai e o Filho no poder do Espírito Santo. O Senhor disse: “E a vida eterna é esta: que conheçam a Ti só por único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo, a Quem enviaste” (Jo 17:3). Para termos esta vida, Cristo teve que descer do céu para revelar o Pai e o relacionamento eterno que Ele tem com Seu Filho (Jo 1:18, 10:10; 1 Jo 4:9). Além disso, esta vida não poderia ser possuída sem o crente estar descansando em fé na obra consumada de Cristo (Jo 3:14-15) e sendo habitado pelo Espírito Santo (Jo 4:14). Isso mostra que a vida eterna é uma bênção distintamente Cristã que possuímos “em Cristo Jesus”, o Homem ressuscitado, ascendido e glorificado à direita de Deus (Rm 6:23; 2 Tm 1:1). F. G. Patterson disse: “A vida eterna é o termo Cristão para o que possuímos em Cristo; por meio dela somos levados à comunhão com o Pai e o Filho e, assim, temos uma natureza adequada ao céu” (Scripture Notes and Queries, pág. 112). Ele também disse: “Temos a vida eterna em Cristo – Cristo vive em nós; e essa vida eterna nos leva à comunhão com o Pai e o Filho, o que não poderia acontecer antes que o Pai fosse revelado n’Ele e o Espírito Santo fosse dado, pelo qual gozamos isso” (Words of Truth, vol. 3, pág. 178). H. Nunnerley disse: “A vida eterna é uma vida de comunhão, uma participação nos relacionamentos divinos, um conhecimento experimental do Pai e do Seu Enviado” (Scripture Truth, vol. 1, pág. 197). A. C. Brown disse: “A vida eterna se refere à vida de Deus desfrutada em comunhão com o Pai e o Filho pela habitação do Espírito Santo” (Eternal Life, pág. 4).
Muita confusão surgiu ao longo dos anos quanto ao significado da vida eterna. Muitos missionários, evangelistas e professores de escolas dominicais a definem como “vida que dura para sempre”. Entretanto, se essa fosse uma definição correta da vida eterna, então teríamos que dizer que o diabo e todos os pecadores perdidos têm vida eterna, porque eles também existirão para sempre! Isto, com certeza, não é verdade. H. Nunnerley disse: “Muitos se equivocam quanto à vida eterna, limitando seu significado à duração infinita da existência e à segurança eterna daqueles que possuem essa vida” (Scripture Truth, vol. 1, pág. 195). A. C. Brown confirmou isso, afirmando que a vida eterna “não significa apenas que temos vida que dura para sempre” (Eternal Life, pág. 4). (“Vida permanente” aparece ocasionalmente na KJV, mas deveria ser traduzida como “vida eterna”). H. M. Hooke comentou: “Muito poucos de nós se esforçam em se sentar e pensar o que é a vida eterna. Lembro-me de uma vez ter perguntado a uma irmã idosa se ela gentilmente me dissesse o que era a vida eterna. “Ah, sim!”, ela disse, “perpetuidade da existência”. Então, eu disse: “Você não possui nada mais do que o demônio possui – pois ele tem perpetuidade de existência!” Acredito que o que ela disse é uma ideia popular. Mesmo os perdidos têm perpetuidade da existência; pois eles passarão a eternidade no lago de fogo, mas eles não terão a vida eterna” (The Christian Friend, vol. 12, pág. 230).
O termo não é chamado de vida “eterna” por causa de sua duração sem fim, mas porque é uma vida que pertence à eternidade. Refere-se à qualidade especial da vida divina que o Pai e o Filho têm desfrutado juntos eternamente. Por meio da vinda de Cristo para revelar o Pai, a morte de Cristo para resolver a questão de nossos pecados, a ressurreição e ascensão de Cristo e com o Espírito sendo enviado é, para nós agora, possível participar dessa vida em um relacionamento com o Pai e o Filho. Assim, podemos desfrutar do que as Pessoas divinas desfrutam (1 Jo 1:3-4). Esta é uma bênção que não era conhecida ou possuída pelos santos do Velho Testamento, pois eles não tinham conhecimento de Deus como Pai, nem o fundamento para a redenção, estabelecido na morte de Cristo, nem o Espírito Santo enviado para habitar em crentes.
Muitos Cristãos têm dificuldade em entender como alguém poderia dizer que os santos do Velho Testamento não têm vida eterna. Para eles, parece que estamos dizendo que aqueles santos não foram salvos e, portanto, não estão no céu agora! Seu problema é que eles têm uma ideia errada do que é a vida eterna e isso os levou a conclusões erradas. A verdade é que os santos do Velho Testamento nasceram de novo e, portanto, tiveram vida divina e, assim, estão no céu agora – mas não puderam ter a qualidade e o caráter de vida envolvidos na vida eterna pelas razões expostas acima. J. N. Darby foi questionado: “Pergunta: os santos do Velho Testamento não tinham a vida eterna? Resposta: Quanto aos santos do Velho Testamento, a vida eterna não fazia parte da revelação do Velho Testamento, mesmo supondo que os santos do Velho Testamento a tivessem” (Notes and Jottings, pág. 351). H. M. Hooke disse: “Fiquei muito impressionado ao examinar as Escrituras do Velho Testamento e não encontrar um único exemplo mencionando um santo do Velho Testamento que tivesse a vida eterna; ela não era conhecida” (The Christian Friend, vol. 12, pág. 230). Nem é dizer que eles tinham a vida eterna, mas não a conheciam (como alguns equivocadamente ensinaram), porque a própria essência e significado da vida eterna é ter comunhão consciente com o Pai e o Filho (Jo 17:3). Como poderia uma pessoa ter comunhão consciente com o Pai e o Filho (a essência da vida eterna) e não ser consciente disso?!
A vida eterna é uma vida “celestial” (Jo 3:12-13) que apareceu pela primeira vez quando Cristo veio do céu e habitou entre os homens (Jo 1:14). Antes da vinda de Cristo ao mundo, a vida eterna (estar “com o Pai” no céu – 1 Jo 1:2) era desconhecida pelos homens. Foi agora dada aos Cristãos (Jo 3:15-16, 36, etc.). pela qual somos capazes de ter comunhão com o Pai e o Filho, e ter a plenitude de gozo resultante disso (1 Jo 1:3-4). F. G. Patterson disse: “Não pode ser dito que eles [os santos do Velho Testamento] tiveram a vida eterna. Ela só foi trazida à luz por meio do evangelho (2 Tm 1:10; Tt 1:2, etc.)”. (Scripture Notes and Queries, pág. 66).
Ensinar que os santos do Velho Testamento tinham a vida eterna confunde a diferença entre os dois Testamentos e as bênçãos e privilégios que distinguem a Igreja de Israel. É um erro enraizado na Teologia Reformada (Pacto), que vê Israel e a Igreja como um povo que tem as mesmas bênçãos. Muitos problemas e confusões resultaram do fato de os homens entenderem equivocadamente o assunto da vida eterna e, consequentemente, ensinarem o erro a respeito disso. Por exemplo: F. W. Grant tentou dá-la aos santos do Velho Testamento, enquanto F. E. Raven tentou tirá-la dos santos do Novo Testamento! (O sr. Raven provavelmente negaria isso, mas se o que ele ensinou for examinado com cuidado, a essência disso será descoberta. Veja “Life Eternal with F.E.R’s Heterodoxy as to it” – por W. Kelly.)
A vida eterna também é universalmente confundida com “nascer de novo” (Jo 3:3-8), mas esses termos não são sinônimos. Ambos têm a ver com possuir a vida divina, mas a vida eterna, como afirmamos, tem a ver com ter a vida divina em seu sentido mais pleno, em comunhão com o Pai e o Filho. Não é que existem dois tipos de vida divina; a vida comunicada no novo nascimento e vida eterna são a mesma vida em essência. É a própria vida de Cristo – na verdade, Ele é chamado de “esta Vida Eterna” (TB) nesta epístola (1 Jo 1:2). A diferença é que quando uma pessoa nasce de novo, ela tem a vida divina em um estágio embrionário, por assim dizer, quando uma pessoa recebe a vida eterna pela fé em Cristo, tem a vida divina em sua forma mais elevada – conhecendo o Pai e o Filho pelo poder do Espírito Santo. Da mesma forma, a vida em uma semente de maçã é a mesma que em uma macieira adulta; a diferença é que, na árvore, essa vida está totalmente desenvolvida.

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