O TESTE DE OBEDIÊNCIA (Cap. 2:3-5)
João prossegue para examinar outra
confirmação de profissão. Ele diz: “E nisto sabemos que O conhecemos: se
guardarmos os Seus mandamentos. Aquele que diz: Eu conheço-O e não
guarda os Seus mandamentos é mentiroso, e nele não está a verdade. Mas qualquer
que guarda a Sua Palavra, o amor de Deus está nele verdadeiramente aperfeiçoado;
nisto conhecemos que estamos n’Ele”.
O teste aqui é obediência. Esta é uma das maiores provas da realidade da
profissão de uma pessoa. João menciona duas coisas a esse respeito:
- Guardando Seus “mandamentos” (v. 3).
- Guardando Sua “Palavra” (v. 5).
Os “mandamentos”
do Senhor são as instruções especiais que Ele deu a Seus discípulos em Seu
ministério terreno. João se refere a eles várias vezes em seus escritos (Jo
13:34, 14:15, 15:10-12; 1 Jo 2:3-4, 7-8, 3:22-23, 4:21, 5:2-3; 2 Jo 4-6). Como
mencionado na Introdução, o tema no ministério de João é a vida eterna na
família de Deus. Ele supõe que condições felizes de afeto existam na comunhão
do Pai e o Filho com os filhos de Deus, e quando o menor desejo ou anseio é
dado a conhecer aos filhos, tem o poder de um comando sobre seus corações.
Torna-se algo para eles que devem fazer para aqu’Ele a Quem eles amam tanto
(cap. 4:19). Por isso, essas coisas são apropriadamente chamadas de “mandamentos”.
(Veja 2 Samuel 23:15-17).
Esses mandamentos não
devem ser confundidos com os Dez Mandamentos que Deus deu a Israel por
intermédio de Moisés (Êx 20). Alguns têm entendido mal isso e imaginaram que o
Senhor estava ensinando que os Cristãos estão sob a lei e, portanto, devem observar
suas determinações. 1 Coríntios 14:37 mostra que os mandamentos do Senhor não
são os Mandamentos da lei dados no Sinai. Nesse capítulo, Paulo instrui os
santos quanto à ordem de Deus para o ministério Cristão na assembleia, e
conclui chamando essas coisas de “mandamentos do Senhor”. Isso mostra
que não devemos pensar que toda vez que vemos a palavra “mandamentos” na
Escritura, refere-se automaticamente aos Dez Mandamentos; as instruções que
Paulo deu em 1 Coríntios 14 não têm nada a ver com os Mandamentos legais que
Deus deu no Sinai. Geralmente, quando os Mandamentos mosaicos são mencionados
nas epístolas, eles são chamados de “a lei” (Rm 3:19-20, 13:8-9; 1 Tm 1:9;
Tg 2:10, etc.)
Seus mandamentos não
são “pesados” para aqueles que O amam (1 Jo 5:3) porque Seu “jugo é
suave” e Seu “fardo é leve” (Mt 11:29). Assim, no Cristianismo, as
coisas que Ele nos pediu para fazer não são penosas, como foi a Lei de Moisés
(Mt 11:28; At 15:10).
Guardar “Sua Palavra”
é algo maior do que guardar Seus mandamentos. Tem a ver com conhecer a mente e
a vontade de Deus quando não há nenhum versículo bíblico específico que aborde
nosso motivo de preocupação. Tais coisas são discernidas permanecendo n’Ele – isto
é, estando em comunhão com o Senhor (Jo 15:4, 7). Em tais situações, “o amor
de Deus” é “aperfeiçoado” em nós. O gozo do Seu amor por estar em
comunhão com Ele nos levou a discernir Sua mente e, nesse sentido, o amor de
Deus alcançou seu fim divino em nós. Por isso, como crentes, nós não apenas “O
conhecemos” por fé (v. 3), mas também “sabemos que estamos n’Ele” por
meio da experiência pessoal da comunhão (v. 5). Nossa obediência prova a
realidade do nosso relacionamento com Ele e mostra que realmente o conhecemos.
Por outro lado, se
alguém disser que conhece a Deus, mas não guarda Seus mandamentos (e muito
menos a Sua Palavra), fica claro que o amor e a obediência de que João está
falando não estão nele. A pessoa manifestou sua condição real; ela não tem
conhecimento real de Deus e mostra ser alguém “mentiroso, e a verdade não
está nele” (v. 4).