O Exame de Várias Alegações de Andar na Luz
Tendo declarado que
Deus “é luz” e “está na luz”, isso imediatamente se torna um teste para a profissão de um
homem. João aborda seis alegações comuns que uma pessoa pode professar,
indicadas pelas palavras: “Se dissermos ... ” (cap. 1:6, 8, 10) e “Aquele que diz ... ” (cap. 2:4, 6, 9). Nesta
passagem, João dá provas e contraprovas pelas quais todas as alegações de
conhecer a Deus e estar na luz podem ser verificadas.
O TESTE DE ESTAR
EM COMUNHÃO COM DEUS NA LUZ (cap. 1:6-7)
João diz: “Se dissermos que
temos comunhão com Ele e andarmos em trevas, mentimos e não praticamos a
verdade. Mas, se andarmos na luz, como Ele na luz está, temos comunhão uns com
os outros, e o sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, nos purifica de todo o [cada]
pecado”. Assim, se Deus é
luz e dizemos que O conhecemos e estamos em comunhão com Ele, mas vivemos de
uma forma que prova que estamos em total ignorância de Deus, é claro que nossa
profissão é falsa. Todos esses andam “nas trevas” e não são realmente
crentes de verdade. Eles não têm conhecimento real da natureza santa de Deus e
nada têm em comum com Ele, pois “que comunhão tem a luz com as trevas?”
(2 Co 6:14) Por outro lado, se um homem faz a profissão de conhecer verdadeiramente
a Deus, ele manifestará a realidade disso. Ele andará “na luz” e terá
“comunhão” com os outros que estão na luz, e entenderá que “o sangue de
Jesus Cristo, Seu Filho” limpou seus pecados. Ele será caracterizado por
estas três coisas:
Em primeiro lugar,
o crente está “na luz”. Assim, ele tem um conhecimento básico de Deus e
da Sua natureza santa, por ter vida divina e crer no evangelho. Isso o coloca
na luz posicionalmente. Como mencionado na Introdução, João olha as coisas
abstratamente, Ele está falando aqui de onde o crente caminha, não como
caminha. Ele não está levando em consideração que um crente, que está na luz,
pode, às vezes, não andar de acordo com a luz. (“todos tropeçamos em muitas coisas” – Tg 3:2). Ele está olhando
para a luz e para as trevas como algo posicional; todos estão na luz ou nas trevas.
Alguém perguntou a J. N. Darby: “O que são ‘trevas?’ A resposta: a ausência do
conhecimento de Deus e, quanto a isso, não é possível a nenhum Cristão estar nas
trevas. Ao receber Cristo, eu recebo luz. Deus é luz e, se eu O conheço, não
estou nas trevas” (Notes and Jottings, pág. 106). Foi-lhe perguntado também:
“E se um crente virar as costas para a luz?” A resposta que ele deu foi: “Então
a luz vai brilhar em suas costas, porque ele está sempre na luz!” (Unknown and Well Known, a biography of John
Nelson Darby por W. G. Turner, pág. 36).
Em segundo lugar,
“temos comunhão uns com os outros”. Os filhos de Deus têm um interesse
comum – Cristo, o Filho de Deus – e isso os leva a andar juntos em feliz
comunhão. Isso os caracteriza. Novamente, João não está considerando que às
vezes uma pessoa pode sair da comunhão prática com seus irmãos com pensamentos
e ideias divergentes, mas do que caracteriza os filhos de Deus.
Em terceiro lugar,
“o sangue de Jesus Cristo nos purifica de todo o [cada] pecado”.
Assim, os filhos de Deus conhecem o significado da obra consumada de Cristo na
cruz, da qual fala Seu sangue. Suas consciências foram purificadas como
resultado do descanso na fé sobre o que Ele realizou lá (Hb 9:14). Assim, eles
não têm desejo de escapar da luz, mas ficam felizes em serem sondados por ela
(Sl 139:23-24; Jo 3:21) porque sabem que tudo o que a luz expõe, o sangue
purificou. De fato, quanto mais minuciosamente a luz brilha sobre eles, mais
claramente é visto que não há mancha de pecado neles! Tal é o poder purificador
do sangue de Cristo. A palavra “purifica” neste versículo está no tempo
perfeito no grego. Isso não significa que o sangue precise ser continuamente
reaplicado se e quando um crente falhar, mas que o crente permaneça em um
estado constante de ser purificado pelo sangue, porque o sangue nunca perde seu
poder, tendo eficácia eterna.
O TESTE DE TER A NATUREZA PECAMINOSA (Cap.
1:8)
João passa a examinar outra alegação;
neste caso, é em relação ao crente que ainda tem a natureza pecaminosa nele.
Ele diz: “Se dissermos que não
temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós”. Essa
falsa alegação de que não temos pecado, mostra que não só havia homens
associados à profissão Cristã que estavam em trevas quanto à verdadeira
natureza de Deus, mas eles também estavam em trevas quanto ao seu próprio
estado. Eles professavam não ter pecado neles! Ou seja, eles diziam que não tinham
uma natureza pecaminosa – a carne! João diz que todas essas pessoas “enganam” a
si mesmas. Fazer tal afirmação só prova que eles não estão na luz, porque se
eles estivessem, a luz teria revelado a eles o que eles são. Um dos pontos mais
elementares do conhecimento Cristão resultante de estar na luz é que sabemos
que ainda temos a carne em nós (Rm 7:18). Isso mostra a seriedade de abraçar um
erro; se nossas vontades estiverem trabalhando com relação ao erro, perderemos
nosso discernimento e seremos enganados por ele. Assim, se nos depararmos com
alguém que professa conhecer a Deus e estar em comunhão com Ele, mas diz que
não tem uma natureza pecaminosa, ele está nos dando uma indicação clara de que
provavelmente não é um verdadeiro crente.
O TESTE DA CONFISSÃO DOS PECADOS (Cap.
1:9-2:2)
João passa para outro ponto – a questão
de ter pecado. Ele diz: “Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e
justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça. Se
dissermos que não pecamos, fazemo-Lo mentiroso, e a Sua Palavra não está em
nós” (vs. 9-10). A confissão
dos pecados marca um verdadeiro filho de Deus. Já que ele está na luz, se ele
peca, a luz o examinará, e sua consciência será despertada quanto ao que ele
fez. Isso levará ao seu arrependimento, que trará uma confissão franca e humilde
de ter pecado. Assim, o efeito de estar na luz é que confessamos nossos
pecados. Todo verdadeiro filho de Deus fará isso. Alguém perguntou a J. N.
Darby o que um crente em falta deve fazer quando ele está em um curso rebelde
há anos e não consegue lembrar que pecado exatamente deu início ao seu
afastamento do Senhor. Sua resposta foi: “Ele pode confessar seu estado de
fraqueza em geral”. Se for genuíno, levará à sua restauração.
Confissão de pecados é,
na realidade, um exercício do crente em relação à sua restauração à comunhão,
quando ele falha. Se a confissão dos pecados fosse exigida dos pecadores que
vinham a Cristo para a salvação, então como alguém seria salvo? Que pecador
pode se lembrar de todos os seus pecados? Quando levamos em consideração o fato
de que “a lavoura [pensamentos] dos ímpios é pecado” (Pv 21:4) e “o
pensamento do tolo é pecado” (Pv 24:9), seria uma tarefa impossível. Seus
pecados podem chegar aos milhares – talvez aos milhões! Um pecador buscar a
salvação e o perdão dos pecados é simplesmente reconhecer ou confessar que é um
pecador (Lc 18:13) e confessar Jesus como seu Senhor (Rm 10:9; Fp 2:11), mas
não é exigido que confesse todos e cada um dos pecados que cometeu. O princípio
abstrato envolvido no perdão dos pecados aqui pode ser amplo o suficiente para
cobrir a vinda inicial de uma pessoa a Cristo para o perdão eterno e a salvação
(ver Synopsis of the Books of the Bible por J. N. Darby, nota de rodapé
em 1 João 1:9), mas o contexto mostra que João está realmente falando daqueles
dentro da companhia Cristã. Comentando sobre isso, F. B. Hole disse: “É
verdade, claro, que a única coisa honesta para um incrédulo, quando a convicção
chega até ele, é confessar seus pecados, então o perdão, completo e eterno, será dele. O crente, contudo, está
em questão aqui. Isto é: ‘Se (nós)
confessarmos’”. (Epistles, vol. 3, pág. 147).