Dois Aspectos da Vida Mais Abundante
Há dois aspectos dessa
vida mais abundante: em primeiro lugar, refere-se à vida divina no
crente como uma possessão presente, pela qual ele desfruta de comunhão
consciente com o Pai e o Filho (Jo 3:15-16, 36, etc. – “tem”). Este é o
aspecto em vista no ministério de João. Em segundo lugar, ela é
vista como a esfera da vida para a qual o crente está indo em direção ao final
de seu caminho quando chegar ao céu. Assim, é uma coisa futura. Este é o
modo como Paulo fala a respeito (Rm 2:7, 5:21, 6:22, 23; Gl 6:8; 1 Tm 1:16,
6:12, 19; Tt 1:2, 3:7). Judas fala disso dessa maneira também (Jd 21). Neste
último sentido, a vida eterna[1] é
um ambiente de vida espiritual onde tudo é luz, amor e justiça, e onde a
comunhão com o Pai e o Filho é desfrutada. Assim, o primeiro aspecto tem a ver
com a vida em nós, e o segundo é a vida na qual estaremos.
Usamos a palavra “vida”
dessas duas maneiras em nossa linguagem cotidiana. Podemos falar de uma planta,
um animal ou um humano como tendo vida neles. Mas também falamos de vida como
um ambiente ou esfera em que uma pessoa pode habitar – por exemplo, “vida no
campo”, “vida na cidade”, “vida de assembleia”, etc. Assim, podemos gozar a
vida eterna agora pelo Espírito, mas depois habitaremos nessa
esfera de vida em seu sentido mais amplo quando formos glorificados. Esses dois
aspectos de vida foram ilustrados no exemplo de um mergulhador em águas profundas.
Ele trabalha debaixo d'água, mas respira por meio de conexão ao cilindro
de ar que o mantém vivo. Isto é como o crente tendo a possessão presente da
vida eterna. Vivendo neste mundo, nós vivemos e nos movemos e temos nosso ser
em um ambiente inadequado para a nossa nova natureza, pois pertencemos à nova
criação e somos pessoas celestiais. Assim,
não somos deste mundo, mas somos sustentados pela conexão de vida de
comunhão com o Pai e o Filho enquanto estamos no mundo. Quando o trabalho do
mergulhador é concluído e ele é trazido para fora da água para o ambiente que lhe
é natural, ele tira seu equipamento de mergulho e respira o ar sem esse
aparato. Da mesma forma, quando nosso trabalho estiver concluído aqui na Terra
e formos chamados para o céu em nosso estado glorificado, estaremos então no ambiente
da vida eterna4 e para
o qual estaremos perfeitamente adequados.
A possessão presente
desta vida pode ser referida como “vida eterna” (JND) e o aspecto futuro
como “vida eterna4” (JND). Somos gratos à Tradução J. N. Darby que distingue
estas coisas desta maneira. (O Sr. Darby não considera a vida eterna como tal
em 1 Jo 3:15, 5:11, 13, 20, mas a tradução de Kelly o faz). Quando fala de
Cristo pessoalmente, é traduzida como “Vida Eterna” (1 Jo 1:2 – JND).
[1] N. do T.: As traduções de J. N.
Darby e W. Kelly diferenciam os dois significados da expressão traduzida para o
português como “vida eterna”,
utilizando as expressões “life eternal”
e “eternal life”. Como traduzir isso
para o português não destacaria a diferença existente, usaremos a expressão “vida eterna” para indicar o aspecto
presente da possessão da vida eterna (que Darby e Kelly traduzem como “life
eternal”) e “vida eterna4” para indicar o aspecto
futuro dessa possessão (que Darby e Kelly traduzem como “eternal life”). O Concise Bible Dictionary diz: “Aquele
que tem o Filho de Deus, portanto, tem vida agora
(a possessão presente) e sabe disso
pelo Espírito Santo, o Espírito da vida. O apóstolo João fala da vida como um
estado subjetivo nos crentes, embora inseparável do conhecimento de Deus
plenamente revelado como o Pai no Filho, e de fato caracterizado por isso. O
Senhor disse a Seu Pai: “a vida eterna é
esta: que Te conheçam, a Ti só, por único
Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a Quem enviaste” (Jo 17:3). O apóstolo
Paulo apresenta a vida eterna mais como uma esperança
diante do Cristão (a possessão futura),
que, no entanto, tem um efeito moral presente (Tt 1:2, 3:7). Disso obtemos que
a vida eterna para o Cristão se dirige à sua plenitude para a glória de Deus,
quando o corpo atual como parte da velha criação será transformado, e haverá
total conformidade a Cristo, de acordo com o
propósito de Deus. Nesse meio tempo, a mente de Deus é que o Cristão, habitado
pelo Espírito Santo, saiba (tenha o conhecimento consciente) que ele tem a vida
eterna (1 Jo 5:13). Veja no Apêndice, na última página deste livro, como Darby
e Kelly identificam o caráter presente e futuro da vida eterna em suas
traduções.