O Prólogo
Cap. 1:1-4 – Os quatro
primeiros versículos do capítulo 1 formam a Introdução à epístola. É uma
declaração de que a vida eterna se manifestou neste mundo na Pessoa do Filho de
Deus, e que pessoas competentes e confiáveis (os apóstolos) deram testemunho
disso. Eles declararam esse maravilhoso fato para que pudéssemos participar
daquela vida com eles e, assim, ter comunhão com o Pai e o Filho e com todos os
que também assim foram feitos por Deus.
João diz: “Aquilo
que era desde o princípio, aquilo que ouvimos, o que temos visto com os nossos
olhos; o que contemplamos e manejamos com nossas mãos sobre a Palavra da vida; (e
a vida se manifestou, e vimos e testificamos e relatamos-lhes a vida eterna que
estava com o Pai e nos foi manifestada) ...” (JND). João fala “Aquilo
que era desde o princípio...”.
Poderíamos ter pensado que ele teria dito: “Aqu’Ele que era desde o
princípio”, mas João não está se referindo ao Senhor Jesus pessoalmente, mas
sim à manifestação da vida eterna que
foi apresentada n’Ele e, portanto, “aquilo
que” é apropriado.
O “princípio”
que João fala aqui refere-se a quando a vida eterna foi manifestada pela
primeira vez neste mundo. Isso nos leva de volta à encarnação de Cristo quando
o caráter pleno daquela vida se tornou visível n’Ele (Jo 1:14). “Desde o princípio”
é uma expressão que ocorre onze vezes nas epístolas de João (1 Jo 1:1, 2:7
[duas vezes], 2:13, 14, 24 [duas vezes], 3:8, 11; 2 Jo 5, 6). Como mencionado,
a frase refere-se ao princípio da exibição moral do Cristianismo na Pessoa de
Cristo. Não deve ser confundido com o “princípio” em Gênesis 1:1, que
marca o começo de todas as coisas criadas – visíveis e invisíveis. Nem é o
mesmo “princípio” como em João 1:1, que nos leva de volta antes de Gênesis
1:1 para uma eternidade passada sem tempo. Nem é o “princípio”
mencionado em Apocalipse 3:14, que é o começo da raça da nova criação dos
homens sob Cristo quando Ele ressuscitou dos mortos (2 Co 5:17; Cl 1:18).
A responsabilidade de
João desde o início é insistir no fato de que Cristo Se tornou um Homem real e,
como tal, Ele manifestou plenamente a vida eterna neste mundo. Ao afirmar o que
os apóstolos (“nós”) “O ouvimos”, “O temos visto”, “O contemplamos”
e “O manejamos”, João mostra que a vida eterna não é um conceito místico
(como os gnósticos estavam propondo), mas aquilo que foi vivamente expresso em
um Homem real. Os apóstolos O conheciam como tal e tinham comunhão íntima e
pessoal com Ele. João menciona isso para refutar as noções dos gnósticos que, de
um modo blasfemo, ensinavam que Cristo era um fantasma, e
não um Homem real.
João identifica Cristo
como “o Verbo da vida” (ARA),
e isso sincroniza com João 1:1, que afirma que Ele é uma Pessoa divina e eterna
na Divindade, tendo todos os atributos da deidade. Ele é chamado a Palavra da
vida porque Ele expressou plenamente a vida e a natureza de Deus. Todas as Suas
benditas características foram apresentadas n’Ele em perfeição. “O Verbo”
(Jo 1:1, 14; Ap 19:13 – ARA) é um nome adequado para o Senhor Jesus. Palavras
são veículos pelos quais transmitimos nossos pensamentos aos outros. Podemos
ter certos conceitos, ideias e emoções em nossas mentes, e a maneira pela qual
os tornamos conhecidos pelos outros é por meio de palavras. Assim, o Senhor
Jesus é a Palavra de Deus no sentido de que Ele é o Revelador de tudo o que
Deus é para o homem. Ele tornou Deus plenamente conhecido – como sendo o Pai, o
Filho e o Espírito Santo (Jo 1:18, 14:9, 17:6-8).
V. 2 – Em um parêntese,
João declara que não só os apóstolos viram a vida eterna expressa em Cristo,
mas também deram testemunho disso e trouxeram esse relato aos santos (“vos
anunciamos”). O relato dos apóstolos é uma declaração de que Cristo – que é
a personificação dessa vida e apropriadamente chamado de “esta Vida Eterna”
(TB) – existiu eternamente “com o Pai” no céu antes de ser manifestado
neste mundo. Isso significa que a vida eterna é algo que não era
conhecido pelos homens antes da vinda de Cristo. Como mencionado na Introdução,
a vida eterna é conhecer Deus como nosso Pai e Jesus Cristo como Seu Filho (Jo
17:3). Para que uma pessoa tenha esse caráter de vida divina, Cristo teve que
vir e revelar o relacionamento eterno do Pai e o Filho (Jo 1:14-18), e fazer
expiação pelo pecado (Jo 3:14-15), e enviar o Espírito Santo para habitar nos
crentes (Jo 4:14). Os santos do Velho Testamento, portanto, não poderiam ter a
eterna vida. Eles nasceram de Deus e, portanto, tinham vida divina e estão a
salvo no céu agora, mas não conheciam esse caráter da vida divina que a
Escritura chama de “eterna vida”.
Nos versículos 3-4,
João explica por que Deus Se comprometeu a manifestar a vida eterna e a
entregá-la aos crentes – é para nos levar à bem-aventurança da comunhão com as
Pessoas divinas, que os santos até então nunca conheceram. Simplificando, Ele
quer que desfrutemos do que Ele tem desfrutado eternamente. João diz: “o que
vimos e ouvimos, isso vos anunciamos, para que também tenhais comunhão conosco;
e a nossa comunhão é [na verdade
– JND] com o Pai e com Seu Filho Jesus Cristo. Estas coisas vos escrevemos, para que o
vosso gozo se cumpra”.
Assim, o Pai e o Filho têm habitado eternamente juntos em doce comunhão com o
Espírito Santo, e agora que a redenção foi realizada, um caminho em graça foi
aberto para trazer outros para essa comunhão.
Os apóstolos foram os
primeiros a provar essa doce comunhão e declararam isso na pregação do
evangelho, para que todos os que cressem também conhecessem e desfrutassem sua
bem-aventurança. Cristo, o Filho de Deus, é o centro dessa comunhão divina e,
como tal, é a fonte de grande deleite para Deus, o Pai. Ele poderia dizer: “Então
Eu estava com Ele e era Seu Aluno [Artífice]: e era cada dia as Suas delícias”
(Pv 8:30). O Pai Se deleita
em Seu Filho (Mt 3:17, 17:5, Jo 3:35, 5:20) e quer compartilhar esse deleite
conosco, para que possamos conhecer sua bem-aventurança também! (Compare com o
Salmo 36:8) Beber do cálice de deleite do Pai e desfrutar de uma doce comunhão
com Ele e Seu Filho é a essência da eterna vida. É, de fato, uma verdade surpreendente
que Deus em graça (e a um grande custo para Si mesmo) alcance e traga pecadores
que se afastaram d’Ele, em comunhão íntima e pessoal Consigo – e isso é o que
Ele tem feito!
João conclui suas
observações introdutórias acrescentando que não é apenas o desejo de Deus que
experimentemos esse gozo, mas é o desejo dos apóstolos também, e é uma das
razões pelas quais João escreveu a epístola.