As Duas Naturezas Contrastadas
Vs. 7-10 – Por causa da
presença do pecado e dos homens pecaminosos neste mundo, João continua
exortando os filhos de Deus a ficarem em guarda contra os enganos dos falsos
mestres que procuravam oportunidades para se infiltrar entre os santos e desviá-los.
Para ajudá-los a identificar esses falsos obreiros, João faz uma breve
dissertação sobre as características básicas das duas naturezas – a velha
natureza herdada do nascimento natural por meio de nossos pais (Sl 51:5) e
a nova natureza comunicada por Deus por meio do novo nascimento (Jo 3:3-8).
Ele não vê essas duas naturezas em uma pessoa (ou seja, um crente), mas
abstratamente – as quais caracterizam os crentes e os incrédulos.
Ele
nos dá um teste simples pelo qual toda pretensão de se ter a natureza divina
pode ser testada. Ele diz: “Quem pratica justiça é justo, assim como Ele é
justo. Quem comete o pecado é do diabo, porque o diabo peca desde o princípio”
(vs. 7-8). Assim, aqueles que são verdadeiros podem ser distinguidos daqueles
que são falsos, olhando para a prática geral de suas vidas, pois aquilo que um
homem “pratica” indica seu caráter. O verdadeiro praticará a justiça e o
falso mestre praticará o pecado (ilegalidade); por isso, seu verdadeiro caráter
será manifestado. Isso mostra que a posse da nova natureza não é provada pela
profissão que um homem faz, mas pela maneira como ele age no que diz respeito à
prática. Portanto, não devemos ser ingênuos e ser enganados por um comentário casual
que uma pessoa possa fazer que soe como se tivesse fé em Cristo. Sua verdadeira
identidade será conhecida pelo caráter de sua vida.
Se uma pessoa
caracteristicamente pratica o pecado, é claro que ele é “do diabo”. O
diabo é caracterizado pela rebelião sem lei contra Deus e praticou o pecado “desde
o princípio”. O princípio de que João está falando aqui não poderia ser o
começo de Satanás como uma criatura. Se fosse assim, então Deus poderia ser acusado
de criar uma criatura maligna, o que não é verdade. Deus não criou Satanás como
o diabo; ele se tornou o diabo por meio de rebelião. João está se referindo ao
começo (a origem) do pecado no universo moral, que começou com a revolta de
Satanás contra Deus (Ez 28:11-19). Alguns pensam que o pecado teve seu início
na queda de Adão (Gn 3), porque Romanos 5:12 diz: “por um homem entrou o
pecado no mundo, e pelo pecado a morte”. No entanto, esse versículo não
está se referindo ao pecado e à morte que entram na criação primitiva,
mas ao pecado e à morte que entram na raça humana (o mundo Adâmico). É
um erro pensar que o pecado não existiu até a queda de Adão. Satanás e seus
anjos caíram antes que Adão caísse e são claramente os primeiros pecadores. Que
Satanás era um pecador antes de Adão pode ser visto no fato de que ele estava pecaminosamente
trabalhando no jardim do Éden, mentindo e enganando a mulher antes que ela e
seu marido pecassem. Em Romanos 5:12, Paulo traça a entrada do pecado na raça
humana, enquanto João nos leva de volta à origem do pecado.
Ele acrescenta: “Para
isto o Filho de Deus Se manifestou: para desfazer as obras do diabo” (v.
8b). O diabo tem trabalhado nos corações dos homens por intermédio da velha
natureza do pecado, enchendo os homens de incredulidade e rebeldia. O Senhor
veio para “desfazer” aquelas más obras no coração dos homens, dando vida
eterna àqueles que creem n’Ele (Jo 10:10). E aqueles que creem podem viver uma
vida sem pecado, acima da influência maligna do diabo, porque “Qualquer que
é nascido de Deus não comete [não
pratica – JND] pecado; porque a Sua semente permanece nele; e não
pode pecar, porque é nascido de Deus” (v. 9). Muitos crentes sinceros ficaram
perturbados por este versículo. Não entendendo o estilo abstrato de escrita de
João, concluíram que não eram nascidos de novo, como pensavam que eram, porque
pecaram depois de receberem a Cristo. No entanto, este versículo não significa
que um crente não pode pecar. A palavra de João no capítulo 2:1 seria inútil se
fosse esse o caso. Ele indica que um crente pode pecar se não for cuidadoso. O
ponto de João aqui é que a nova natureza em um crente, recebida em novo
nascimento, não pode pecar. Isso significa que, se vivermos segundo os apetites
e desejos de nossa nova natureza, não pecaremos. Assim, ele vê o crente como
totalmente identificado com a nova natureza.
V. 10 – João então
resume as características básicas das duas naturezas. Ele diz: “Nisto são
manifestos os filhos de Deus e os filhos do diabo: qualquer que não pratica a
justiça e não ama a seu irmão não é de Deus”. De uma perspectiva moral e espiritual, João traça duas sementes
entre os homens: aqueles que são “filhos de Deus” (Jo 1:12-13) e os que
são “filhos do diabo” (Mt 13:25; Jo 8:44; At 13:10). Estas são duas
famílias distintas, cada uma com um caráter que tem uma semelhança moral com o
pai. Uma é “de” Deus e a outra é “do” diabo. Tendo afirmado no
versículo 7 que uma pessoa que habitualmente pratica a justiça mostra
claramente que ela é justa, João conclui com o reverso aqui no versículo 10. Alguém
que habitualmente “não pratica a justiça” manifesta que não é de Deus.
Moralmente, ele tem a mesma natureza que o diabo e, nesse sentido, é um filho
do diabo. Muitas desses podem não viver vidas escandalosamente perversas, mas
eles não “praticam a justiça”, nem há “amor” divino nelas.