A Unção do Espírito
Vs. 20-21 – Em vista
desse ataque ao Cristianismo, João dirige esses pequeninos ao grande recurso
que eles têm no Espírito Santo. Ele diz: “Mas vós tendes a unção do Santo, e
conheceis toda a verdade” (tradução de W. Kelly). A “unção” do
Espírito é um aspecto especial da habitação do Espírito Santo que dá ao crente
discernimento em relação à verdade e ao erro. Isso mostra que o mais novo filho
de Deus tem a presença interior do Espírito, que é recebido quando cremos no
evangelho (Gl 3:2; Ef 1:13). No evangelho de João, o Espírito de Deus é dado
aos crentes para aumentar seu entendimento e desfrute da verdade (caps. 14:26,
15:26, 16:13-15), enquanto na epístola de João, o Espírito é dado ao santos
mais com o propósito de protegê-los de serem enganados pelo inimigo (caps. 2:18-27,
3:24, 4:1-6, 13, 5:6-7).
É digno de nota que
João não direciona esses pequeninos para a Palavra de Deus, e lhes diz para
usar as Escrituras para refutar o ensino do mal. Se eles tivessem estado no
nível dos jovens que tinham a Palavra de Deus habitando neles, ele poderia ter
dito isso. Mas esses filhinhos eram novos na fé e ainda não tinham um
conhecimento prático da Palavra de Deus e, portanto, não tinham capacidade para
tal tarefa. Sendo assim, João aponta para a “unção do Santo” que seria
dada para conhecer “todas as coisas” (JND). Ele diz: “Não vos escrevi porque não soubésseis a
verdade, mas porque a sabeis e porque nenhuma mentira vem da verdade” (v.
21). João não quer dizer que esses novos crentes conhecessem todos os vários
princípios da revelação Cristã da verdade, mas tendo a unção do Espírito, eles
tinham a capacidade de discernir a verdade quando fosse apresentada.
Assim, eles saberiam quando a ouvissem. O Espírito lhes daria um senso em suas
almas de que o que estava sendo apresentado era de fato a verdade. Por outro
lado, se alguém apresentasse um erro, eles também seriam capazes de discernir
que havia algo errado com isso. Eles talvez não pudessem explicar o que
exatamente estava errado com a falsa doutrina, mas eles saberiam o suficiente
para evitá-la e, assim, seriam preservados.
Vs. 22-23 – João faz
uma pausa para mencionar as duas principais formas de erro com as quais
os santos se encontrarão antes de continuar com suas observações sobre a unção
do Espírito. Esses são:
- A negação de que “Jesus é o Cristo [Messias]”. Essa é a blasfêmia que é mantida entre os judeus descrentes.
- A negação do relacionamento eterno do “Pai e o Filho”. Essa é a blasfêmia que é mantida entre muitos falsos mestres no testemunho Cristão.
Negar que Jesus é o
Cristo é negar a mensagem essencial do Velho Testamento (At 17:2-3), e negar o
Pai e o Filho é negar a mensagem essencial do Novo Testamento (Mt 3:16-17).
Vemos disto que os ataques do inimigo são geralmente, se não sempre, dirigidos
à Pessoa de Cristo. De fato, será encontrado que no fundo de todo sistema anticristão
de ensino há algum tipo de blasfêmia em conexão com a Pessoa de Cristo. Esses
sistemas religiosos podem usar a terminologia bíblica em seus ensinamentos, mas
o teste real está no que eles têm em relação à “doutrina de Cristo” (2 Jo
9). H. Smith disse: “Quando o anticristo aparecer, ele unirá a mentira dos judeus
com a mentira que surge na profissão Cristã, negando tanto que Jesus é o
Messias e que Ele é uma Pessoa divina” (As Epístolas de João, pág. 17).
O apóstolo João marca aquele que expõe essas falsas doutrinas como sendo um “mentiroso”.
Vs. 24-26 – João então
acrescenta uma condição importante em conexão com a operação da unção do
Espírito. Ele diz: “Portanto, o que desde o princípio ouvistes permaneça em
vós. Se em vós permanecer o que desde o princípio ouvistes, também
permanecereis no Filho e no Pai. E esta é a promessa que Ele nos fez: a eterna vida.”
Isso mostra que o discernimento espiritual transmitido pelo Espírito Santo não
é uma coisa automática. O uso que João faz da palavra “se” mostra que a
obra do Espírito como a unção depende do fato de o crente permanecer na
revelação Cristã do Pai e o Filho (recebida quando cremos no evangelho) e
continuar em comunhão consciente com o Pai e o Filho, que é a essência da “vida
eterna” (Jo 17:3). Mencionamos isto porque há muitos que são
verdadeiramente salvos e habitados pelo Espírito Santo, mas que foram enganados
por mestres errôneos, porque não permaneceram em comunhão com o Pai e o Filho.
Isso mostra quão importante é manter a comunhão com Deus; é nossa “corda
salva-vidas” espiritual. João explica que estava dando esse aviso por causa do
perigo real daqueles que estavam tentando “extraviá-los” (v. 26 – JND).
V. 27 – João então reafirma
o grande recurso que eles tinham no Espírito Santo: “E a unção que vós
recebestes d’Ele fica em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos
ensine; mas, como a Sua unção vos ensina todas as coisas, e é verdadeira, e não
é mentira, como ela vos ensinou, assim n’Ele
permanecereis”. Alguns
pensaram que o que João está dizendo aqui é que o caminho para resolver o
problema de absorver o erro de falsos mestres é recusar todo o ensino dos
homens. Eles acham que o que ele está dizendo é que não precisamos que os
homens nos ensinem a verdade porque temos o Espírito Santo que nos ensina e que
isso é tudo que precisamos. Consequentemente, eles rejeitam a leitura de todo
ministério escrito (comentários). Mas não é isso que João está dizendo. Este
versículo não significa que não precisamos de mestres Cristãos na Igreja. Se
assim fosse, por que Deus levantou “mestres” e os enviou para ensinar a
Igreja? (1 Co 12:28; Ef 4:11-14) Esse versículo simplesmente significa que
quando algo nos é apresentado, não precisamos de alguém para nos dizer se é
verdade ou erro. Se estamos em comunhão com o Senhor, a unção do Espírito nos
dará a saber se é verdade ou erro. Consequentemente, rejeitaremos o erro e
reteremos a verdade, e assim “n’Ele permanecereis” e seremos
preservados.
V. 28 – F. B. Hole
declara: “O versículo 28 do capítulo 2 permanece como um parágrafo curto por si
mesmo, e o segundo capítulo terminaria mais apropriadamente com ele” (Epistles,
vol. 3, pág. 158). O apóstolo aqui volta a se dirigir a toda família de Deus e,
ao fazê-lo, encerra sua digressão sobre o crescimento na família. (Como
mencionado anteriormente, a palavra aqui deveria ser “filhos” e não “filhinhos”).
É uma exortação simples
para a família como um todo (todos os três níveis de crescimento) a permanecer
n’Ele (“permanecei n’Ele”). É nossa grande salvaguarda contra todo o
ensino anticristão. Isso mostra que não há substituto para a comunhão, sejam Cristãos
maduros ou novos convertidos. João olhou para o dia da manifestação (a Aparição
de Cristo) quando os resultados do nosso serviço serão exibidos. Seu trabalho
como um apóstolo será manifestado e os trabalhos dos santos serão também. Ele
mostra que é possível que pudéssemos ser envergonhados naquele momento porque
não seguimos bem no caminho da fé. Seu desejo é que todos tenhamos “confiança”
naquele dia e que ninguém seja “envergonhado diante d’Ele em Sua vinda” (JND).